Na véspera do Dia da Consciência Negra, a banda subiu ao palco do lendário Circo Voador, na Lapa, com um objetivo claro e de peso: transformar dez anos de história, fúria e ativismo em um álbum ao vivo, um documento sonoro perene.
O que aconteceu ali, porém, foi muito mais do que a gravação de um disco; foi uma celebração catártica de resistência, diversidade e poder, provando que o fervor do hardcore político tem um endereço fixo no coração do Brasil.
A Escolha Estratégica: O Espírito do Circo Voador
Para selar esta década, os irmãos Chaene (baixo) e Charles Gama (guitarra e vocal), ao lado do baterista Pancho, ignoraram o glamour de grandes festivais como The Town e Rock in Rio. A escolha foi o Circo Voador, templo do rock nacional, uma lona de madeira que já é sinônimo de energia bruta.
A razão é a simbiose com o público carioca, conhecido pelo molejo que transforma o hardcore em “música para dançar, mexer e sonhar.” O Black Pantera veio buscar a espontaneidade irrefreável do Rio de Janeiro.
O Rolo Compressor Imparável

Com um setlist implacável que passeou por hinos como “Fogo nos Racistas”, “Padrão é o Caralho”, “Provérbios” e “Revolução é o Caos”, a banda soltou seu habitual rolo compressor sem dar um único segundo de trégua. A plateia respondeu com uma intensidade que as gravações de estúdio jamais poderiam capturar.
O que se viu no Circo Voador não foi um show roteirizado, mas uma cerimônia coletiva. O público, sabendo de cor não só as letras, mas as frases de efeito, berrava como um coro unificado: “Sem anistia!”, “Todo mundo já foi preto um dia” e o poderoso “Minha mãe não tem hora para chegar (do trabalho)”.
A Inclusão na Roda
Se a música do Black Pantera é inequivocamente política, a plateia é a prova viva de seu discurso inclusivo. Longe de ser apenas um mar de metalheads e punks, a pista refletia uma diversidade raramente vista em shows de heavy metal: pessoas negras, trans, LGBTQIA+, adultos grisalhos e jovens, todos unidos pelo groove do baixo de Chaene e a bateria tribal de Pancho.
Os momentos mais emblemáticos da noite reforçaram o poder da comunidade:
A Roda para Todos: Foi aberta uma roda de mosh exclusiva para meninas, demonstrando a atenção da banda à inclusão de gênero.
O Ícone Erguido: Um fã com deficiência foi içado em sua cadeira de rodas para curtir a festa. Não contente, outra roda de mosh foi aberta apenas para ele.
Agora, a expectativa recai sobre a pós-produção: será que microfones e câmeras conseguirão captar com fidelidade toda a energia, a fúria e o coração que pulsam na “terra do Carnaval”? O que é certo é que quem esteve presente recomendará esta noite como uma das mais inesquecíveis.


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