Mas qual é o real impacto dessas figuras no universo das adolescentes brasileiras de hoje? A resposta, complexa e cheia de nuances, é o cerne da pesquisa da psicóloga Carla Mikulski, que aprofunda o tema em seu livro recém-lançado, “Para Além dos Contos de Fadas: Princesas e Gênero sob o Olhar de Adolescentes”.
Em um estudo qualitativo com jovens entre 13 e 17 anos, Mikulski revela que, embora as novas gerações tenham uma lente mais crítica, as mensagens sobre papéis de gênero ainda se entranham na psique. O livro, publicado pela Editora Appris, mostra que as meninas não apenas questionam os estereótipos, mas também internalizam narrativas que perpetuam ideias tradicionais. “Meu objetivo foi ouvir como as adolescentes interpretam e ressignificam essas histórias”, explica a autora.
Uma das descobertas mais marcantes é a dissonância entre o pensamento crítico e a internalização de certas mensagens. Uma das entrevistadas, por exemplo, apesar de reconhecer a falta de consentimento em “A Bela Adormecida” e a violência simbólica em “Cinderela”, justificou o relacionamento de Bela e a Fera como algo positivo, pois “o amor teria transformado a relação abusiva”. Esse tipo de fala ilustra como o “felizes para sempre” pode, ironicamente, mascarar dinâmicas problemáticas.
A pesquisa de Mikulski chega em um momento de mudança na própria Disney, que tem tentado modernizar suas heroínas, de Valente a Raya. No entanto, a autora aponta que a indústria ainda opera dentro de limites comerciais e culturais, e a verdadeira transformação não depende apenas dos estúdios. “A transformação não vem apenas das produções, mas da sociedade como um todo”, afirma. A pressão por narrativas mais diversas e autônomas, impulsionada pelas novas gerações, é um fator crucial nessa equação.

Para a psicóloga, a solução não está em proibir as princesas, que continuam presentes em roupas, brinquedos e festas, mas em incentivar o diálogo. Ela sugere que pais, educadores e psicólogos usem as histórias como ponto de partida para conversas abertas. “O primeiro caminho é a escuta. Perguntar o que as crianças entendem e sentem em relação às histórias. O segundo é ampliar o repertório”, sugere Mikulski, ressaltando a importância de expor os jovens a protagonistas mais diversos e de estimular a autonomia e o pensamento crítico.
O livro será lançado no dia 27 de setembro, às 17h, na Livraria Alento, no Flamengo, e promete ser uma ferramenta valiosa para quem busca entender a complexa relação entre cultura pop e a formação da identidade de gênero na adolescência.
Sobre a autora: Carla Mikulski é psicóloga, mestra em Psicologia (UFBA) e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental, Terapia do Esquema e Psicologia Positiva. Atua em pesquisa sobre cultura, gênero e desenvolvimento humano, e integra o Grupo de Trabalho Relações de Gênero e Psicologia do CRP-03.
Serviço
Lançamento do livro Para Além dos Contos de Fadas: Princesas e Gênero sob o Olhar de Adolescentes
📍 Livraria Alento (Rua Senador Vergueiro, nº 80, loja A – Flamengo, Rio de Janeiro, RJ)
📅 27 de setembro (sábado)
🕓 17h
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