Protagonizado novamente por Joaquin Phoenix, agora com a adição de Lady Gaga no papel de Harleen Quinzel, ou Lee, o longa promete explorar novas camadas da psique perturbada do protagonista, em um misto de delírio, música e uma paixão insana.
Phoenix, agora aos 49 anos, retorna com a mesma intensidade que lhe rendeu o Oscar no primeiro filme. Sua performance é, sem dúvida, um dos pontos altos da produção. Phoenix encarna Arthur Fleck com uma energia perturbadora, e dessa vez sua jornada é compartilhada com Lee, interpretada por Lady Gaga, cuja versatilidade como atriz tem sido um diferencial em sua carreira. Com 38 anos, Gaga traz uma dimensão instigante para Harleen Quinzel, mas há algo em sua personagem que fica aquém das expectativas, gerando questionamentos sobre as escolhas do roteiro.
O ponto de partida da trama é a prisão de Arthur no hospital psiquiátrico Arkham, aguardando julgamento pelos assassinatos que cometeu no filme anterior. É nesse cenário que ele conhece Lee, uma psiquiatra que, ao longo da narrativa, desenvolve uma identificação perturbadora com o criminoso, evoluindo para uma paixão caótica. O filme, contudo, não se apoia em uma estrutura narrativa convencional. Ele tenta algo ousado, brincando com as fronteiras entre a realidade e o delírio – algo que já se esperava desde as primeiras revelações de que a sequência seria um musical.
E é nesse ponto que o filme divide opiniões.
Atuações Brilhantes, Mas com Roteiro Raso
As atuações de Phoenix e Gaga são, sem dúvida, o que mantém o filme pulsante. Phoenix continua entregando uma performance visceral, enquanto Gaga traz uma energia magnética em cena, particularmente nas sequências musicais. No entanto, mesmo com a força interpretativa do duo, o roteiro deixa a desejar. A história parece se perder em sua própria complexidade, sem oferecer o aprofundamento necessário, especialmente no desenvolvimento da personagem de Harley Quinn. Embora Gaga interprete Lee com paixão, a personagem é apresentada de forma superficial, e sua história acaba sendo mais uma interpretação pessoal, sem um pano de fundo convincente ou uma construção narrativa que sustente suas motivações.
Essa superficialidade se reflete na relação entre os protagonistas. O romance entre Arthur e Lee surge mais como uma consequência de suas loucuras compartilhadas do que algo fundamentado em uma conexão emocional genuína, o que enfraquece o impacto do enredo. Faltam momentos de profundidade para Lee que realmente nos permitam entender quem ela é e como sua psique é afetada pela convivência com Arthur.
A Musicalidade no Limite: Nem Sempre Eficaz
Um dos elementos mais discutidos antes do lançamento de Coringa: Delírio a Dois foi a inclusão de números musicais, algo que muitos fãs da franquia receberam com ceticismo. E, de fato, a execução musical é um aspecto que funciona em partes. Algumas das canções conseguem captar a atmosfera insana e emocional de Arthur e Lee, especialmente nos momentos mais intensos, onde a música funciona como uma extensão da mente conturbada dos personagens.
Porém, em vários pontos do filme, a musicalidade é excessiva. A quantidade de músicas acaba ofuscando o impacto dramático, deixando a sensação de que o filme tentou ser ambicioso demais nesse aspecto. Em vez de potencializar a história, os números musicais por vezes interrompem a fluidez narrativa, tirando o foco da trama principal.
Delírio e Realidade: Uma Dualidade Mal Explorada
O filme faz uso constante da sobreposição entre delírio e realidade, algo que poderia ser uma grande aposta se explorado com mais cuidado. Infelizmente, a escolha por uma abordagem surrealista nem sempre atinge o efeito esperado. A fronteira entre o real e o imaginário, embora interessante, carece de impacto visual e emocional mais profundo, o que acaba tornando as sequências de delírio pouco marcantes.
Ao contrário do primeiro filme, onde a loucura de Arthur refletia a angústia de uma sociedade em colapso, Delírio a Dois parece mais focado em exibir o caos interno dos personagens sem conectar isso a algo maior. A revolução que Arthur simbolizava no filme anterior se dilui, deixando a narrativa centrada apenas na mente perturbada dos protagonistas, sem expandir esse caos para o mundo ao redor.
Conclusão
Coringa: Delírio a Dois oferece uma continuação corajosa, mas que não alcança todo o seu potencial. Enquanto as atuações de Joaquin Phoenix e Lady Gaga são dignas de aplausos, o filme sofre com a falta de um roteiro sólido que dê profundidade e substância às escolhas narrativas. A aposta em um musical e a exploração dos delírios dos personagens são arriscadas, mas acabam por não trazer o impacto emocional ou visual esperado.
Ainda assim, para os fãs de Arthur Fleck, o filme oferece momentos que valem a pena, principalmente pela intensidade de suas performances. No entanto, para quem busca uma história coesa e bem desenvolvida, Delírio a Dois pode ser uma experiência frustrante, marcada mais pela forma do que pelo conteúdo.
Discussion about this post