.Com a apresentação do espetáculo derivado de seu quinto álbum de estúdio, “As Cores, As Curvas e as Dores do Mundo”, o grupo mineiro não só reafirmou sua posição como um dos pilares da música brasileira contemporânea, mas também demonstrou uma maturidade artística e uma capacidade de reinvenção que poucos alcançam.
A expectativa era grande. Após uma turnê exaustiva e gloriosa pelo Brasil, com ingressos esgotados em diversas capitais, e uma aclamada passagem pela Europa, que solidificou a banda no cenário internacional, o público carioca aguardava ansiosamente para mergulhar no universo do novo disco. E a Lagum entregou. Desde o momento em que os primeiros acordes preencheram o ar, a energia pulsante da banda foi magnética, anunciando uma noite que seria visceral e profundamente catártica.
A Fusão do Novo com o Essencial
O setlist foi um dos pontos altos. Com uma habilidade ímpar, a Lagum costurou as faixas inéditas de “As Cores, As Curvas e as Dores do Mundo” com os grandes sucessos que pavimentaram sua ascensão. Clássicos como “Ninguém Me Ensinou”, “Deixa” e “Oi” foram revisitados com uma vitalidade renovada, ganhando novas nuances que dialogavam perfeitamente com a sonoridade mais introspectiva e experimental do novo trabalho. Não era uma mera transição entre eras, mas uma fusão orgânica que mostrava a evolução da banda sem renunciar à sua essência.
As novas canções, por sua vez, brilharam com uma luz própria. Em “As Cores…”, a Lagum se aprofunda na observação do cotidiano urbano, nas complexidades das relações e nas belezas que muitas vezes passam despercebidas na vida corrida da cidade. Ao vivo, essas narrativas ganharam uma dimensão ainda maior. A performance da banda, com a entrega apaixonada de Pedro Calais nos vocais, complementada pela precisão instrumental de Jorge, Otávio e Francisco, transformou cada verso em um convite à reflexão, à introspecção e à celebraação da vida em suas múltiplas facetas.
Uma Viagem Sensorial Meticulosamente Projetada
O que realmente elevou o show a um outro patamar foi a concepção visual e sonora. A turnê foi detalhadamente pensada para ser uma verdadeira “viagem sensorial”. Os arranjos e escolhas de timbres, produzidos exclusivamente para o espetáculo, deram uma “roupagem exclusiva” às faixas. O que nos fones de ouvido já é rico em detalhes, no Qualistage se tornou uma experiência imersiva. A iluminação, que pintava o palco com as “cores” vibrantes e as “curvas” sinuosas da metrópole, e as projeções visuais que acompanhavam a temática de cada canção, não eram meros adereços, mas componentes cruciais da narrativa.
Houve momentos de explosão coletiva, com a plateia cantando em uníssono, e outros de uma intimidade quase palpável, onde a banda conseguia criar um silêncio reverente, quebrado apenas pela emoção de cada nota. Essa capacidade de navegar entre a euforia e a introspecção é uma das maiores forças da Lagum ao vivo.
Além do Entretenimento: Uma Provocação Artística
“As Cores, as Curvas e as Dores do Mundo” é um álbum que se propõe a mais do que entreter: ele provoca, questiona e desafia a percepção do ouvinte sobre a realidade moderna. No palco, essa provocação ganhou um contorno ainda mais vívido. A Lagum, através de sua arte, convida a um olhar mais atento para o cotidiano, para as belezas e as “dores” inerentes à existência humana. O show no Qualistage foi um reflexo fiel dessa proposta, um lembrete de que a música pode ser uma ferramenta poderosa para a contemplação e a conexão.
A noite de 18 de outubro de 2025 não foi apenas mais um show na bem-sucedida trajetória da Lagum; foi um marco. Uma celebração da evolução, da coragem de inovar e da capacidade de uma banda se manter relevante e surpreendente, ano após ano. A Lagum entregou um espetáculo que honrou seu passado, celebrou seu presente e apontou para um futuro ainda mais brilhante. O público saiu do Qualistage não apenas com a melodia na cabeça, mas com a sensação de ter vivenciado algo verdadeiramente especial, uma pintura sonora das “Cores, Curvas e Dores do Mundo” em sua mais pura essência.



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