Lançado pela Netflix no dia 03 de março, o longa é baseado no livro homônimo de Jennifer Mathieu, publicado em 2018, e apresenta a história de Vivian, vivida por Hadley Robinson, que começa a perceber atitudes machistas na sua escola e decide iniciar um grupo feminista inspirado em sua mãe Lisa, interpretada por Amy Poehler, que foi integrante de um grupo feminista na adolescência.
Dirigido pela estrela de Saturday Night Live e Parks and Recreation, Amy Poehler, e roteirizado por Tamara Chestna e Dylan Meyer, Moxie – Quando as Garotas vão à Luta traz um tema forte como o feminismo para a rotina escolar de adolescentes de ensino médio.
A princípio, pode parecer um filme adolescente piegas ou uma comédia romântica meia boca que cita um tema importante apenas para preencher alguma tabela para agradar um grupo em específico. Porém, o longa passa muito longe dessa temática. Sim, é um filme adolescente com protagonistas adolescentes, mas traz uma mensagem importante para todas as mulheres: mantenham a cabeça erguida.
Lucy, interpretada por Alycia Pascual-Peña, é nova na escola e em seu primeiro dia de aula já sofre constrangimentos com que podemos muito bem nos identificar. Vivian dá um conselho não muito agradável para a nova colega, que responde que irá manter a sua cabeça bem erguida.
Os comportamentos que assistimos em Moxie são os que estamos acostumadas a ver no dia a dia e até mesmo que já nos foi ensinado a reproduzir. As atitudes machistas feitas por colegas de classe, professores e a diretora, os dois últimos sendo pessoas de autoridade que deveriam proteger seus alunos de qualquer ameaça em um ambiente escolar, causam bastante desconforto no público, intencionalmente, mostrando o quanto esse tipo de comportamento é inadequado e já não mais aceito por grande parte da sociedade.
É por esses abusos frequentemente sofridos pelas alunas e pelo descaso de quem deveria punir esses comportamentos que Vivian cria Moxie, um jornal que denuncia o machismo presente no ambiente escolar, mas que se desenvolve um movimento feminista intenso e necessário.
Como se não bastasse o drama de inseguranças e medos de uma vida adolescente, o filme carrega os sentimentos de desconstrução dos personagens, no sentido de descobrir o quanto algumas situações, antes denominadas como brincadeiras, são um tanto desconfortáveis, constrangedoras e inaceitáveis.
Algo muito importante no filme o difere de diversas obras que tratam sobre feminismo: Moxie não aborda a rivalidade feminina, tão carregada em filmes adolescentes. O roteiro entrega positivamente a mensagem de união feminina em vários momentos do filme, sem a necessidade de diminuir a outra coleguinha, seja ela uma adolescente tímida, líder de torcida ou de uma cultura diferente.
O longa consegue trazer, ainda, temáticas raciais e latinas, embora tratados de forma superficiais, talvez para não sobrecarregar o tema principal do filme. Destaque para a transexualidade, trazida de uma forma sutil, mas super enfática de uma aluna mulher trans que é impedida de realizar testes femininos no teatro da escola e com professores e colegas que se recusam de chamá-la por seu nome. A presença da personagem para o movimento feminista escolar é importante para ser mostrado a todos que mulheres trans também fazem parte da luta feminista e, sim, são mulheres que devem ter seus direitos respeitados como tal.
Amy Poehler é o grande destaque como diretora do longa. Consegue passar a mensagem feminista sem parecer impertinente e cansativo, não prioriza o romance na história, o que é praticamente esquecido em muitos filmes que resolvem abordar o tema feminismo, e prova que é possível existir um filme com comédia tendo piadas construtivas e não ofensivas e depreciativas.
Como atriz, Amy não decepciona ao interpretar a mãe solo da protagonista. Apesar de não aparecer muito no longa, já que o foco são os personagens mais jovens, sua presença é marcada pela dosagem certa de humor crítico em cenas básicas, mas que desconstroem o senso comum sobre as mulheres e o feminismo, como a cena em que o funcionário do mercado ensina a guardar os ovos na sacola e o fato de comer sorvete para relaxar e não para curar um sofrimento. Já os personagens adolescentes fazem jus ao seu público alvo, mostrando toda a jornada de descoberta até a prática (inclusive as consequências) do movimento. Eles conseguem expressar o desconforto na medida certa com as situações mais desagradáveis, como os assédios e omissões.
A trilha sonora carregada de músicas punk só reafirma a força do movimento feminista e traduz o sentimento desde a descoberta do feminismo à luta.
Certamente, o longa se apresenta como um incentivo ao empoderamento feminino e, principalmente, à união das mulheres. Apesar de se destinar ao público jovem, devido à importância de abordar desde cedo que determinados comportamentos são inaceitáveis, Moxie também apresenta a temática de forma positiva para mulheres de todas as idades (já que nunca é tarde para aprender sobre feminismo) e também os homens, que, sim, podem abraçar e apoiar a causa.
É um filme que encanta pela mensagem emocionante e forte sobre o feminismo, mas que não deixa de divertir o espectador. Vai gerar identificação desde as situações mais extremas de abusos e machismo, que toda mulher já sofreu em algum momento em sua vida, até os momentos de aprendizado.
Uma observação final: o filme possui gatilhos de assédio e estupro. Então fique ligadx.
Moxie: Quando as Garotas vão à Luta está disponível na Netflix.
Confira o trailer abaixo:
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